sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Outra Vida

 
Foi quando, no fundo de uma gaveta, encontrei uma fotografia antiga. Talvez não tão antiga, mesmo que parecesse ser de uma época muito distante, de tanto que a vida mudara, desde então. Os rostos da foto eram felizes, coloridos, sorrisos e olhos brilhantes. Tão diferente de hoje. A sensação era de que, se tirasse uma foto hoje, ela seria toda em preto e branco.
Segurei aquela fotografia por um momento e observei-a. Não senti nada diferente. O aperto no peito, a dor, o coração sangrando já estavam aqui. As lembranças não me invadiram como um turbilhão; elas já rondavam a minha cabeça exaustivamente, como desde sempre. A esperança não voou pela janela quarto adentro, verde e ansiosa por atenção; ela nunca fora embora, mesmo na hora em que tudo o mais se acabou e ela pareceu perdida.
Era outra vida. Lembrava-se bem do olhar tão adorado, tão inesquecível. Também dos maravilhosos momentos. Da aurora da felicidade. Do escurecer da partida. Do abrir-se da ferida, que assim permaneceria durante muito tempo. Peguei a foto com as duas mãos e, sem pena, rasguei-a em pedaçinhos, abandonando-os no fundo da lixeira. Não precisava de fotos para me lembrar de que, um dia, fora feliz.

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