sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mundo em duas palavras


Ele era o tipo de pessoa que só dizia o necessário. Ela, pelo contrário, falava tanto que dizia até mesmo o que não devia. Eram diferentes, ao mesmo tempo em que se completavam. Os intermináveis monólogos dela preenchiam os momentos de silêncio em que ele tentava não pensar nos próprios problemas. E ria das queixas dela, das histórias, do sarcasmo. Sorria, quando devia estar aborrecido com os acontecimentos do dia. Engraçado que nunca tinha sido um bom ouvinte, mas descobrira que a voz dela o acalmava como nenhum outro tranquilizante.
Ela sabia que ele não era de muitas palavras, mas não porque não tivesse o que dizer. Sabia, porque ele opinava algumas vezes, quando discordava de uma colocação qualquer, ou quando falava sobre alguma coisa que precisava ser resolvida. Mas geralmente deixava que ela falasse. Ela nunca tinha certeza se ele estava realmente ouvindo, mas seus olhos eram sempre atentos. Ele sabia que ela descarregava as preocupações falando, que conseguia um alívio momentâneo, mesmo que não pensasse realmente tudo o que deixava escapar. E, por isso, ele ouvia. Sem mudar de assunto, sem interromper.
Às vezes, ela achava que o chateava com a falação constante. Certo dia, encontrou-o com olhar tão distante que, no nervosismo de tentar fazê-lo sorrir, desandou a falar demais. Depois, considerou que devia ter perguntado se ele queria dizer algo. Sabia que ele era uma pessoa de poucas palavras, mas falaria com ela, se precisasse. Certo? 
Neste dia, torturou-se tanto que jurou por tudo ficar calada por um mês inteiro. Então percebeu um pequeno bilhete , escrito em um papel . Apenas duas palavras:
elas bastavam ! 

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