sábado, 23 de outubro de 2010
Sem rementente
Tomei dois goles de café. Olhei pro tempo e sussurei como reclamação: chuva, de novo. Peguei um guarda-chuva. Precisava me manter acordada, então tomei o resto do café que havia no copo.Era uma sexta-feira, então eu teria de ir trabalhar. Motivador. Eu queria mesmo era dormir, porque estava cansada de abrir os olhos e enxergar coisas erradas. Queria comer e dormir, somente isso.
Sai de casa, peguei as cartas na caixa de correio e passei em uma padaria e comprei meu doce, como todos os dias. Porém, uma coisa fiz de diferente: resolvi ir andando ao serviço. Tinha tempo, sai mais cedo pra sentir o vento e as leves gotas de chuva em meu rosto. Abri o guarda-chuva pra não chegar ensopada de água no escritório.
Andei durante vinte minutos. Cheguei a Marie Claire e como de costume, agradeci, antes de passar pela porta de entrada, por conseguir o emprego dos meus sonhos. Eu era a editora chefe da revista, e não me importava em andar a pé. Era a vida que eu queria, jogada em minhas mãos.
Passei pela porta, dei bom dia a Carl. Subi o elevador e quando cheguei ao meu andar, fui direto a minha mesa. Sentei. Tirei as cartas de minha bolsa e começei a abrir. Cobrança, cobrança, cobrança, cobrança. Ótimo, nada de novidade.
Espera, uma não era cobrança. Era uma carta sem remetente, com letra conhecida escrito o destinário. Abri a carta.
"Desculpe, eu sei que pode lhe parecer estranho, mas eu deixei pra depois mesmo. Pedi que colocassem no correio se eu morresse antes de você. Não é legal, mas eu precisava lembrar a você que nada está perdido, principalmente meu amor eterno que eu tanto lhe prometi."
Me veio o nó na garganta. Por que eu ainda havia de me lembrar? Eu mesma respondi, só que em voz baixa: Por mais que eu achasse que é a vida perfeita, basta uma batida mais forte do meu coração pra eu perceber que não é. Basta o meu ouvido ser invadido por certo nome que eu sei que falta tudo. Eu só tento fingir o errado, mas na verdade, o certo não existe. Porque o certo se foi assim que você deitou-se naquela caixa marrom horrível e parou de falar, sorrir, olhar... respirar. Parou de dizer o quanto me amava.
Obrigada por lembrar, por me fazer lembrar. E a propósito, eu também te amo.
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