Foi quando, no fundo de uma gaveta, encontrei uma fotografia antiga. Talvez não tão antiga, mesmo que parecesse ser de uma época muito distante, de tanto que a vida mudara, desde então. Os rostos da foto eram felizes, coloridos, sorrisos e olhos brilhantes. Tão diferente de hoje. A sensação era de que, se tirasse uma foto hoje, ela seria toda em preto e branco.
Segurei aquela fotografia por um momento e observei-a. Não senti nada diferente. O aperto no peito, a dor, o coração sangrando já estavam aqui. As lembranças não me invadiram como um turbilhão; elas já rondavam a minha cabeça exaustivamente, como desde sempre. A esperança não voou pela janela quarto adentro, verde e ansiosa por atenção; ela nunca fora embora, mesmo na hora em que tudo o mais se acabou e ela pareceu perdida.
Era outra vida. Lembrava-se bem do olhar tão adorado, tão inesquecível. Também dos maravilhosos momentos. Da aurora da felicidade. Do escurecer da partida. Do abrir-se da ferida, que assim permaneceria durante muito tempo. Peguei a foto com as duas mãos e, sem pena, rasguei-a em pedaçinhos, abandonando-os no fundo da lixeira. Não precisava de fotos para me lembrar de que, um dia, fora feliz.
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